sábado, 11 de outubro de 2008

Texto: "O laboratório de computador: uma má idéia, atualmente santificada"



Gavriel Salomon

Há 20.000 anos, quando nossos ancestrais habitavam as cavernas, as crianças – que não tinham idade para caçar – eram diariamente mandadas a uma sala da caverna, para diminuir a destruição e o incômodo que causavam. O mais distinguido ancião da tribo que tivesse passado da idade de caçar era encarregado delas, e o melhor que podia fazer era ensinar-lhes a tradição, a mitologia e a boa conduta na vida diária da tribo. Decorando, as crianças eram logo capazes de recontar, palavra por palavra, a história do Grande Orelha, o grande caçador de mamutes, de contar nos dedos dos pés e das mãos o número de folhas de figo necessárias para temperar uma sopa de leão para doze pessoas e de recitar os 17 versos do grande poema do Fogo que Podia. Aprender não era fácil. Afinal, só havia uma quantidade determinada de coisas que poderiam ser memorizadas mecanicamente e só cálculos simples poderiam ser feitos nos dedos das mãos e dos pés. Ainda assim, esse aprendizado era realizado com prazer por todos.
Um dia, a palavra chegou com os pássaros migratórios de uma nova tecnologia, uma “tecnologia em muitos séculos de invenções”: O Lápis. Foi um burburinho é, sem hesitação, dos dois anciões foram mandados à Grande Caverna para aprender tudo sobre aquela maravilha. Quando voltaram, uma sala especial da caverna foi imediatamente aparelhada para se fazerem estudos sobre o lápis. Foi acarpetada com as maiores folhas de mamoeiro e mobiliada com almofadas especiais, feitas de pêlo de camelo. Nenhuma criança podia entrar na sala sem lavar as mãos!
Fascinado com a nova tecnologia, o ancião mais voltado para o futuro foi nomeado para começar o planejamento e o ensino dos Estudos sobre a Capacidade do lápis na sala recém aparelhada. Aliás, bastante cedo, surgiu um completo e o mais interessante currículo de Lapislogia. E como era interessante! O currículo trazia tópicos maravilhosos! Como apontar um lápis e como usar a outra ponta para apagar; como equilibrar o lápis na orelha e como segura-lo entre os dedos. A criança estudiosa, que tivesse sido bem sucedida nessas etapas mais difíceis, poderia começar a usar o LapisLogo (para desenhar flores), o LapisScribe (para rabiscar letras) e o LapisSupposer (para traçar a área de folhas de desenho incomum). As crianças mais bem sucedidas, a nata da nata, poderiam ainda entrar no LapisBase – para enumerar as invenções de armas da tribo, o campo de caça e a família das árvores.
Um desenvolvimento interessante deu-se bem diante dos olhos dos anciães. As crianças começaram a escrever.
Havia, é claro, alguma preocupação com relação à possibilidade de esse novo empreendimento interferir (ó Deus!) no que tinha sido desenvolvido no ensino de rotina da caverna regular. Lá os professores (naquele momento já havia dois) estavam verdadeiramente preocupados com o fato de que a introdução do lápis na sala privilegiada pudesse forçar algumas mudanças no aprendizado mecânico, tão bem estabelecido. Na verdade, havia uma mulher da tribo, conhecida pelo seu modo provocativo de encarar a vida (ela uma vez sugeriu que as crianças inventassem suas próprias histórias, mas é claro que em silêncio), que propôs usar o lápis em todas as atividades de aprendizado das crianças, talvez para escrever, possivelmente para fazer contas.
Mas não havia realmente espaço para esse tipo de preocupação. Por que, afinal, alguém com exceção da excêntrica mulher, chegaria a sugerir que aquele maravilhoso currículo de Lapislogia, supervisionado por renomados peritos, com suas possibilidades de desenho, escrita e cálculo, fosse tirado da sua sala especial para substituir o aprendizado automático? Por que um lápis deveria ser usado como instrumento nas rotinas diárias? (...)


lapiseborracha.blogs.sapo.pt

IDENTIFICAÇÃO

Iliete Misturini Rodrigues
Pedagoga do Colégio Estadual Marechal Arthur da Costa e Silva – Ensino Fundamental e Médio.
Endereço: Rua Ver. José Teixeira Alves – 171
Planaltina do Paraná – PR
Fone: (44) 3435-1246 ou 3435-1224
Endereço Blogger: pedagogailiete.blogspot.com




Comentário

Acredito que o lápis foi para nós educadores uma peça fascinante e de orgulho no processo de nossa alfabetização. Lembro-me muito bem, com que cuidado apontava, usava e guardava o meu lápis.
Hoje o lápis já não é mais tão importante quanto o foi, possuímos diferentes tecnologias (máquinas de escrever, computador, celular e outros) para nos comunicar, desenhar e gravar os nossos registros.
No texto as salas foram preparadas e decoradas para receber o tal currículo sobre o lápis, e em nossa prática escolar quando chegaram os primeiros computadores, a sala (laboratório de informática), foi ou não foi preparada também com muita ansiedade?

Um comentário:

Erika disse...

Iliete, o computador chegou nas escolas como um recurso a mais para professores e alunos, cabe a nós educadores mudarmos nossa postura frente ao conhecimento e o não conhecimento, o aluno pode saber mais que o professor, se este só tiver informação, o professor precisa ter informação e conhecimento para trabalhar com o aluno atualizado.